segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Teoria Tomista de Beleza

Encontrei este texto em http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=arte&artigo=tomista_beleza&lang=bra
define muito bem este tema.


Pe. Elílio de Faria Matos Júnior



O que pretendemos aqui é estabelecer, em última instância, o que define o belo. Trata-se, pois, de uma elucubração filosófica a respeito do conceito de belo. Assim, nosso objetivo é atingir uma noção que diga respeito ao belo enquanto tal ou que o caracterize a título exclusivo. É um empreendimento que procura atingir a essência do belo, isto é, aquilo pelo qual o belo é belo e não outra coisa. Não se trata, pois, de dizer tudo sobre o belo, mas de identificar o que, segundo nossa posição, o define enquanto tal.

A nosso ver, o que define o belo enquanto tal foi muito bem trabalhado pela tradição clássica. Grande porta-voz dessa tradição é, sem sombra de dúvida, Santo Tomás de Aquino (1225-1274). Tomaremos, pois, de empréstimo, sua definição do belo. Tomaremo-la não porque nos apoiamos em sua autoridade, sem mais, como que invocando a célebre sentença: magister dixit; mas, antes, faremos dela uso por ser firme a nossa convicção de que ela, verdadeiramente, coloca em luz meridiana a essência do belo. A definição de Santo Tomás é breve e simples: pulchrum est id quod visum placet[1] (o belo é aquilo que agrada à visão).

Tal definição, simples como é, exige desdobramento. Podemos dizer que ela implica dois elementos constitutivos que devem ser analisados de per si. São eles: a visão ou conhecimento (visum), de um lado, e, de outro lado, o deleite, gozo ou alegria (placet).

O visum caracteriza o belo como algo que é visto ou conhecido, de tal modo que sem visão não se pode falar de beleza.
Podemos perguntar-nos: como se dá tal visão? A visão simplesmente sensível, animal, seria suficiente no caso? Se assim fosse, os brutos também possuiriam a consciência do belo. Mas tal não se dá[2]. Resulta, pois, que a afirmação do belo implica, imprescindivelmente, referência à inteligência[3]. O Homem, sim, por ser animal racional, possui o senso do belo. A afirmação do belo supõe, ainda que implicitamente, um juízo da consciência. Ora, o juízo só aos seres inteligentes compete. É certo, entretanto, que a beleza é acessível aos sentidos: o ouvido encanta-se por uma bela música e os olhos deleitam-se com uma bela forma. Mas a acessibilidade do belo aos sentidos só é possível porque eles estão penetrados de razão. Santo Tomás diz que os sentidos que percebem o belo são os que mais ligados estão com a potência cognitiva, como é o caso da vista e da audição; ao contrário, com relação aos demais sentidos, não usamos o conceito de belo para caracterizar seus sensíveis, pois não dizemos que os sabores e os odores são belos[4]. Em virtude da unicidade substancial, no Homem, de espírito e matéria, os sentidos são perpassados pelo espírito, e o gozo que o Homem experimenta pelos sentidos não se pode compreender sem referência à inteligência. O senso do belo supõe sempre a consciência, que, por sua vez, é uma categoria do espírito. É pelo espírito, realidade misteriosa, sem a qual, contudo, não compreendemos o Homem como convém, que o homo sapiens sapiens distingue-se dos irracionais, os quais podem até saber, mas certamente não sabem que sabem, isto é, não têm consciência.

A visão, portanto, que constitui elemento essencial para a afirmação do belo é, em última instância, conhecimento, e por isso, referente à potência intelectual. Há, sem dúvida, o conhecimento que o homem assume pelos sentidos (a beleza sensível) e o conhecimento puramente intelectual (que se dá quando o espírito deleita-se com a contemplação da verdade de um ser, e, então, tanto maior será a deleitação quanto mais inteligível for a verdade, isto é, quanto mais clara for). Devido a nossa constituição de espírito encarnado, o nosso conhecimento sempre começa pelos objetos sensíveis, conhecimento este que desperta em nós os primeiros princípios da inteligência, a partir dos quais podemos, pela operação que Santo Tomás denominou separatio[5], alcançar o puro inteligível. Concluamos, pois, que a intuição (o ato de ver, sempre relacionado de um modo ou de outro à inteligência) é condição indispensável para que se fale de beleza.

[1] “Santo Tomás define o belo como sendo o que agrada ver (id quod visum placet) ou o que agrada pelo conhecimento” (Jolivet, Régis. Tratado de filosofia III. Metafísica. Rio de Janeiro: Agir, 1965, p.259).
[2] Verdade é que alguns animais parecem sensíveis à beleza; tal é o caso da serpente encantada pela flauta ou o caso de cavalos excitados pelo clarim. Essas reações não implicam inteligência, mas explicam-se ou pelo instinto ou pelo reflexo condicionado. Isso, contudo, não desvincula o belo de sua relação com a inteligência, mas mostra que a constituição natural do animal foi "pensada" por uma Inteligência.
[3] “A beleza é objeto de inteligência ou de conhecimento intuitivo, enquanto resulta de condições que não são acessíveis senão à inteligência. Essas condições são: a integridade do objeto, a proporção ou unidade na variedade, enfim, a clareza ou resplendor da inteligibilidade” (Jolivet, Régis. Curso de filosofia. 20.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1998, p.338).
[4]“Unde et illi sensus praecipue respiciunt pulchrum, qui maxime cognoscitivi sunt, scilicet visus et auditus rationi deservientes; dicimus enim pulchra visibilia et pulchros sonos. In sensibilibus autem aliorum sensuum non utimur nomine pulchritudinis; non enim dicimus pulchros sapores aut odores” (ST, I-II, q. XXVII, a.1).
[5] O termo separatio designa o gesto metafísico da inteligência pela qual é afirmado o que é negativamente imaterial (as noções de ser, de substância, de causa... que, em si, não implicam materialidade, mas podem realizar-se na matéria.) e o que é positivamente imaterial (Ipsum Esse Subsistens, isto é, Deus, cujo ser exclui toda materialidade).





Depois de ler esta magnífica explicação, penso agora na arte moderna.
Ela destruindo toda a beleza vai filosoficamente contra a inteligência, ora
ir contra a inteligência é um absurdo, uma loucura.
Por isso temos que combater esta pseudo arte que joga o homem no mais
profundo abismo existencial.

A arte moderna cuspiu no altar da beleza.


Emerson

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