sexta-feira, 16 de abril de 2010

Santificados pelo trabalho

A maior parte da nossa vida transcorre no trabalho de cada dia; seja ele braçal ou mental, doméstico ou empresarial, profissional ou particular. E o trabalho foi colocado em nossa vida, por Deus, como um meio de santificação.

O Servo de Deus, Monsenhor José Maria Escrivá, fundou uma grande obra da Igreja, a ´Opus Dei´, tendo como fundamento básico a ´santificação no mundo do trabalho´.

Depois que o homem pecou no paraíso, e perdeu o estado de justiça e santidade originais, Deus fez do trabalho um meio de redenção para o homem.

´Porque escutaste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te proibira de comer, maldito é o solo por causa de ti. Com sofrimentos dele te nutrirás todos os dias de tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e cardos e comerás a erva dos campos. Com suor do teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado´ (Gen 3,17´19).

Mais do que um castigo para o homem, o trabalho foi inserido na sua vida para a sua redenção. Por causa do pecado ele agora é acompanhado do ´suor´, mas este sofrimento Deus o fez matéria prima de salvação.

Infelizmente a maioria dos homens, mesmo muitos católicos, têm uma visão distorcida do trabalho, e, por isso, fazem de tudo para se verem livres dele. É um engano.

Para nos mostrar a importância fundamental do trabalho em nossa vida, Jesus trabalhou até os trinta anos naquela carpintaria humilde e santa de Nazaré. E para nos mostrar que todo trabalho é santo, qualquer que seja, do lixeiro ou do Papa, do pedreiro ou do médico, Ele assumiu o trabalho mais humilde, o de carpinteiro, que era desprezado no seu tempo.

Trabalhando, como homem, Jesus tornou sagrado o trabalho humano e fonte de santificação. Por isso, o lema de vida de Santo Afonso de Ligório era: ´Nunca perder tempo´. E São Bento, de Nurcia, tomou como lema da vida dos mosteiros:´Ora et Labora!´ (Reza e Trabalha!).

Ao criar o homem e a mulher Deus os colocou no seu jardim; era o sinal da familiaridade com Deus. E lá os colocou ´para o cultivar e guardar´ (Gen 2,15); logo, ´o trabalho não é uma penalidade, mas sim a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível´ (CIC, nº 378).

Falando da vida oculta de Jesus, na família de Nazaré, o Papa Paulo VI dizia: ´... Uma lição de trabalho. Nazaré, ó casa do ´Filho do Carpiteiro´, é aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei severa e redentora do trabalho humano...´ (05/01/1964).

Deus ao criar o homem e a mulher lhes ordenou: ´Sede fecundos, multiplicai´vos, enchei a terra e submetei´a´ (Gen 1,28). Este mandamento de Deus, de ´submeter´ a terra, o homem cumpre pelo trabalho de suas mãos e de sua inteligência.

Ensina o Catecismo que:

´O trabalho é, pois, um dever: ´Quem não quer trabalhar, também não há de comer´ (2Ts 3,10). O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos. Suportando a pena do trabalho unido a Jesus, o artesão de Nazaré e o crucificado do Calvário, o homem colabora de certa maneira com o Filho de Deus na sua obra redentora. Mostra´se discípulo de Cristo carregando a cruz cada dia, na atividade que está chamado a realizar. O Trabalho pode ser um meio de santificação e uma animação das realidades terrestres no Espírito de Cristo´ (CIC nº 2427).

O homem é, ao mesmo tempo, o autor e o destinatário do trabalho. É dele que tira o seu sustento e presta serviço à comunidade humana. Portanto, a primeira maneira de vivermos bem o ´mandamento do amor´, é trabalhando bem para servir bem àqueles que se beneficiam do nosso trabalho.

Jesus nos deixou como modelo a sua vida de serviço. Disse muito claramente: ´O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos´ (Mt 20,28).

Esta é a expressão prática do amor, servir, servir até com a própria vida. E, para todos nós, a primeira maneira de servir é trabalhando bem, já que é pelo trabalho que servimos aos outros.

Não podemos dividir a nossa vida em duas dimensões, uma religiosa que se desenvolve na igreja, nas horas de oração e de Encontros, e outra, que é a vida do trabalho, como se uma fosse sagrada e a outra profana. Não. Isso é um grave engano. Toda a nossa vida é sagrada, tanto a espiritual quanto a profissional. Nada é profano em nossa vida. Santo Inácio de Loyola fez a bela síntese do trabalho e da oração dizendo: ´Rezai como se tudo dependesse de Deus e trabalhai como se tudo dependesse de vós´.

Sem o trabalho do homem não existem o pão e o vinho que, na mesa eucarística, se transformam no Corpo e no Sangue de Cristo.

Sem o trabalho do homem não teríamos o pão de cada dia na mesa, a roupa, a casa, o transporte, o remédio, a cultura, etc. Tudo que chega a nós é fruto do trabalho de alguém; é por isso que o labor é santo e nos santifica quando realizado com fé, conforme a vontade de Deus.

São Domingos Sávio, aquele belo santo salesiano de 14 anos, dizia que: ´Ser santo é cumprir bem os deveres e ser alegre´. É uma bela síntese: ´trabalhar com alegria´ para ser santo. Sem dúvida esta é uma maneira simples e bela de dar glória a Deus continuamente, e chegar à santidade.

O Fundador do ´Opus Dei´ dizia: ´enquanto houver homens sobre a terra; por muito que se alterem as técnicas de produção, haverá sempre um trabalho humano que os homens poderão oferecer a Deus, que poderão santificar´. E repetia aos seus que ´as realidades temporais são santificáveis e santificantes´; isto é, o homem santifica o trabalho ( a oficina, a escola, a fábrica, etc). e o trabalho santifica o homem. Se isso não fosse verdade, nossa vida seria absurda, pois passamos a maior parte dela trabalhando.

Nós leigos, sobretudo, somos chamados a santificar o mundo, e isso deve ser feito sobretudo no mundo do trabalho. O Concilio Vaticano II disse que: ´É específico dos leigos, pela sua própria vocação, procurar o Reino de Deus exercendo as funções temporais e ordenando´as segundo Deus... A eles, portanto, cabe de maneira especial iluminar e ordenar de tal modo todas as coisas temporais, às quais estão intimamente unidos, que elas continuamente se façam e cresçam segundo Cristo e contribuam para louvor do Criador e Redentor´

( LG, 31).

Pelo Trabalho, justo, honesto e bem realizado, temos a missão de santificar o mundo, a família, a fábrica, a política, a universidade, a econômia, a música, a arte, a pesquisa, etc. Tudo isso é o ´mundo do trabalho´ que devemos santificar e ser santificados por ele.

Para nós leigos, portanto, o caminho normal, ordinário, de santificação e de apostolado é o trabalho.

Os primeiros cristãos não se afastaram do mundo para viverem o Evangelho; mas continuavam a viver no meio da sociedade.

Como dizia Mons. Escrivá, é preciso ´santificar o trabalho, santificar´se no trabalho e santificar pelo trabalho´. Aos olhos de Deus todos os trabalhos têm o mesmo valor, são todos da mais alta importância, o que vale é o amor com que ele é realizado. Não importa se alguém é ministro ou faxineiro, o que importa é que cada um se santifique pelo trabalho que está apto a fazer.

Santificar o trabalho é dar glória a Deus por meio dele. São Paulo disse aos coríntios:

´Quer comais ou bebais ou façais qualquer outra coisa, façais tudo para a glória de Deus´ (1Cor 10,31). Se até o simples comer e beber devem dar glória a Deus, quanto mais o trabalho!

Aos colossenses São Paulo explica mais claro ainda:

´Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei´o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai´ (Col 3,17).

É preciso notar bem esse ´tudo quanto fizerdes´, nada fica de fora, nada é profano na nossa vida. Tudo deve ser feito ´em nome do Senhor´, isto e’,´Nele´ e ´por Ele´, para dar graças ao Pai.

Um pouco adiante o Apóstolo insiste novamenete:

´Tudo o que fizerdes, fazei´o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens. Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor. Servi ao Senhor Jesus Cristo´ (Col 3,13).

Essas palavras são muito importantes e merecem uma profunda meditação. Mais uma vez o Apóstolo repete: ´tudo o que fizerdes´, nada pode ficar de fora. ´Fazei´o de bom coração´, quer dizer, fazer com amor e não por interesse; e ´como para o Senhor não para os homens´. Aqui está o ponto mais importante. Tudo o que fazemos deve ser feito ´para o Senhor´. Não importa o que seja, se é grande ou pequeno, deve ser feito tendo o Senhor como o ´Patrão´.

Se você é lavadeira, então lave cada camisa ou cada calça, como se o próprio Jesus fosse vesti´las. Se você, cosinha, faça a comida como se o Senhor fosse sentar´se à mesa daqui a pouco, para comer essa comida. Se você é professor, dê a sua aula como se Jesus fosse um aluno que quer aprender. Se você é um médico, atenda cada paciente como se o próprio Jesus fosse o doente. É isso que São Paulo quer nos ensinar quando diz que ´tudo deve ser feito de bom coração, como para o Senhor, e não para os homens´. É claro que com essa ´nova ótica´, faremos o trabalho da melhor maneira possível, com todo o talento, cuidado, esmero, dedicação, competência, honestidade, pontualidade... perfeição, porque eu o faço para o ´meu Senhor´. Isto santifica.

Quando trabalhamos assim, em casa ou na rua, toda a vida muda de sentido, e toda ela se torna perfeitamente sagrada, pois é vivida plenamente para Deus.

É importante também notar o que São Paulo diz a seguir:

´Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor´.

Que ´herança´ é essa que o próprio Senhor nos entregará? É a vida eterna, o céu, o premio da bem´aventurança eterna, por termos sido ´fiéis no pouco´. Isto mostra que cada minuto do nosso labor aqui na terra, vivido por amor a Deus, com ´reta intenção´ de agradá´lo, se transforma em semente de eternidade. É a recompensa que o próprio Senhor dará a cada servo bom e fiel que assim tiver vivido a sua vida. Daí a importância de não se perder tempo, não jogar a vida fora sem nada fazer.

Portanto, o trabalho só será maravilhoso aos nossos olhos quando adquirirmos essa nova concepção da sua grandeza. Então não trabalharemos apenas por causa do salário a receber no final do mês, ou porque o chefe está vigiando, ou porque ele me dará uma posição social de destaque, ou ainda porque eu sou obrigado a fazê´lo. Não. Trabalharemos para servir a Jesus, servindo os irmãos. O Apóstolo conclui dizendo: ´Servi a Jesus Cristo´.

Somente quando entendermos que tudo o que fazemos ´ principalmente as atividades penosas ´ devem ser feitas ´para o Senhor´, é que estaremos trabalhando bem e fazendo dele algo santo e que nos santifica.

Somente assim poderemos ´pôr Cristo no cume de todas as atividade humanas´, como deve ser.

O mundo é bom, porque foi todo ele feito por Deus. Foi o pecado que o desfigurou. Mas, pelo trabalho de cada um, conscientemente realizado, como explicado acima, podemos restituir ao mundo a beleza, a bondade e a ordem, com que Deus o criou. Assim, o trabalho fica sendo ´a marca do homem na criação´, tornando´se assim um grande colaborador de Deus. Daí a altíssima dignidade do trabalho humano aos olhos de Deus.

Por outro lado o trabalho assim vivido, para Deus, nos santifica, pois ele se torna o lugar privilegiado onde todas as nossas virtudes se desenvolvem e todos os vícios são vencidos. É por isso que D.Bosco dizia que mente vazia é oficina do diabo.

Antes de tudo o trabalho faz crescer a caridade, já que, por amor a Deus, empregamo´nos com bondade a serviço dos irmãos.

A fé cresce, pois tudo é feito para Deus; e, nesse sentido, o trabalho se transforma em oração.

A esperança é desenvolvida, já que esperamos receber das mãos do ´bom Patrão´, a herança que nos tem preparada, como uma recompensa merecida.

A fidelidade no trabalho desenvolve as virtudes da paciência, da perseverança, da prudência, da lealdade, da humildade, etc.

Se não faltar amor, o fato de termos de realizar todos os dias as mesmas coisas, isto, no entanto, não será para nós algo sem interesse, sem importância ou monótono. Se o amor está presente tudo é novo a cada dia.

É pelo trabalho profissional que realizamos a vocação de ´sal da terra´ e ´luz do mundo´ entre os colegas, amigos, empregados, alunos, clientes, etc.

O trabalho bem feito é um bom exemplo, por isso o cristão tem que realizá´lo com toda a perfeição possível, empregando todos os talentos. Um mau trabalhador é um mau cristão. Um operário displicente é um mau cristão. Um professor cristão e relapso é um contra testemunho cristão...

Para santificar o trabalho e ser santificado por ele, é preciso fazê´lo com perfeição. Por isso, é de grande importância a busca de um constante aperfeiçoamento profissional.

Jesus disse que devemos ´ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito´ (Mt 5,48). Isto vale também para a nossa atividade profissional. Infelizmente muitos cristãos pensam que o mundo do trabalho está dissociado da perfeição e santidade a que Deus nos chama. É exatamente no dia´a´dia do trabalho que a santidade é fabricada em nós, entendida como uma progressiva ´identificação´ com Deus, já que fomos criados à ´sua imagem e semelhança´. ´Brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem vosso pai que está nos céus.´(Mt 5,16).

É principalmente com o trabalho bem feito, exemplar, que brilhará a luz do nosso testemunho cristão diante dos colegas, e Deus será glorificado.

Um mau trabalhador é um mau cristão. Uma dona de casa relaxada e preguiçosa não é uma boa cristã. E assim, poderíamos multiplicar os casos ... Não basta viver a santidade na igreja, no grupo de oração e nos Encontros; acima de tudo é preciso ser santo na rua e no trabalho.

O trabalho é uma exigência da essência do ser humano. Podemos dizer que o homem foi feito para trabalhar. Só ele recebeu de Deus a inteligência que projeta, e as mãos que constroem . Nenhum outro ser vivo recebeu de Deus, mãos e inteligência.

Pelo trabalho o homem se realiza, se constrói e constrói o mundo e os outros. Através dele torna´se superior aos demais seres criados, e participa gloriosamente da obra do Criador.

É importante ressaltar aqui que ´o trabalho é para o homem, e não o homem para o trabalho´, isto é, o homem deve ser engrandecido pelo seu trabalho e não um escravo dele, ou um simples instrumento de produção.

A Constituição ´Gaudium et Spes´ do Vaticano II diz belamente que:

´Longe de pensar que as obras do engenho e do poder humano se opõem ao poder de Deus e de considerar a criatura racional como rival do Criador, os cristãos, ao contrário, estão bem persuadidos de que as vitórias do gênero humano são um sinal da grandeza de Deus e são fruto do seu desígnio inefável´ (GS, 34).

O trabalho, seja intelectual, seja manual, acarreta sempre o cansaço. Suportando a fadiga do trabalho em união com Cristo ressuscitado, colaboramos com o Senhor na redenção do mundo, conforme diz São Paulo:

´Completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo´, no seu corpo que é a Igreja (Col 1,24).

Cada um deve buscar a santidade na sua própria vida. Não é preciso mudar o rumo da existência. São Paulo insistia nisso: ´Irmãos, cada um permaneça diante de Deus na condição que estava quando Deus o chamou´ (1 Cor 7,20´24).

O que importa é viver bem, a cada dia, todo dia, sem perder tempo e sem jogar a vida fora, pois ela pertence a Deus e aos outros.

DO Livro: ´SEDE SANTOS!´´ Do Prof. Felipe de Aquino


Fonte. Cleofas

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