sábado, 8 de agosto de 2015

TRECHOS DO LIVRO "A LINGUAGEM DAS COISAS" Deyan Sudjic

Deyan Sudjic é diretor do Design Museum de Londres.

Vivemos em um mundo afogado de objetos. Se olhamos em nossas casas ficaremos surpresos em pensar na quantidade de coisas que estão ao nosso redor. Nossas cozinhas estão repletas de aparelhos elétricos. Temos aparelhos de ginástica que nunca usamos. Uma pilha de sapatos no guarda-roupas. Sentimo-nos seguros acreditando não se tratar de caprichos, mas de investimento na família.
Nossos filhos possuen caixas e caixas de brinquedos que rapidamente são deixados de lado.

O Mc Donald`s se tornou o maior distribuidor mundial de brinquedos, quase todos usados para fazer merchandising de marcas ligadas a filmes.

Os objetos geralmente aumentam de tamanho, é uma maneira do fabricante dizer que estes novos modelos são melhores do que outros, as telas de TV são prova disso.

Somos uma geração nascida para consumir. Há quem acampe em frente a lojas da Apple para ser o primeiro a comprar um iPhone. Transformamos uma simples caneta em um símbolo de realização. O brilho do consumo como a meta final das nossas vidas parece estar hoje em dia mais vivo do que nunca.

Hoje o design serve também muitas vezes como publicidade porque seduz as pessoas e essa arma pode servir para o bem e para o mal. O designer consegue calcular inserções para obter determinada resposta emocional. Os objetos são mais do que objetos e o designer sabe, em maior ou menor grau jogar com tudo isso.

LINGUAGEM
Antigamente uma cadeira era feita por um artesão e durava a vida inteira, hoje os produtos são descartáveis e o desejo fenece muito antes que o objeto envelheça. O desenho industrial começa parecer como uma cirurgia plástica que precisa ser refeita com frequência.

Muitas categorias de produtos foram não só transformadas e sim completamente eliminadas.
Cada nova geração é surpreendida tão depressa que nunca dá tempo de desenvovler uma relação entre dono e objeto.

Para entender a lingugem do design precisamos entender a evolução do designer como profissional.
Desde que essa atividade surgiu como prática distinta, intimamente ligada ao desenvolvimento industrial em fins do século XVIII, os designers deixaram de se considerar reformadores socias, idealistas, para se tornarem os carismáticos vendedores de panaceias.

O design, em todas as suas manifestações, é o DNA de uma sociedade industrial - ou pós-industrial, se é isso o que temos hoje. É o código que precisamos explorar se quisermos ter uma chance de entender a natureza do mundo moderno. É um reflexo do nosso sistema econômico e de valores emocionais e culturais.

O que torna essa visão do design realmente atraente é a noção de que há algo a entender sobre os objetos além das questões óbvias de função e finalidade. Ou seja, o significado do objeto.

O design é a lingugem que uma sociedade usa para criar objetos que reflitam seus objetivos e seus valores.

Pode ser usado de formas manipuladoras e mal-intencionadas, ou criativas e ponderadas. O design é a linguagem que ajuda a definir, ou talvez sinalizar o valor. Cria pistas táteis e visuais que sinalizam “precioso” ou “barato”

O design também tem outro tipo de ressonância. Não vamos esquecer que o bom design é também um prazer em si mesmo. A qualidade estética e escultural de um copo ou uma cadeira e a elegância intelectual de uma interface são expressões criativas intrinsecamente apreciáveis. Como também a elegância com que um software interage com seus usuários.

O design é usado para moldar percepções de como os objetos devem ser compreendidos.

O primeiro celular exigiu um design para definir o que é um celular, o que vem depois disso é uma variação deste tema.





  

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