segunda-feira, 10 de maio de 2010

Que é o homem?

Padre Elílio de Faria Matos Júnior

Com o desenvolvimento das ciências da natureza a partir do séc. XVII e das ciências do homem a partir do séc. XVIII, a muitos estudiosos parece não ser mais possível alcançar uma ideia unitária do homem. O saber tornou-se fragmentado. Considera-se o homem do ponto de vista da biologia, da teoria da evolução, da sociologia, da antropologia cultural, da psicologia etc, mas não se consegue encontrar aquele plano de compreensão capaz de unificar crítica e coerentemente o saber do homem sobre si mesmo. Por vezes uma determinada ciência pretende arvorar-se em única intérprete autorizada da compreensão do homem. Assim, define-se o homem sob o ponto de vista exclusivo da biologia ou da sociologia ou da antropologia cultural, o que a meu ver representa o maior perigo acadêmico.

Ora, é inegável que o homem é constituído por uma dimensão biológica, psicológica, sociológica, cultural... Mas o que constitui o homem como homem é inegavelmente a sua dimensão espiritual. O espírito é a categoria que, sem negar as demais categorias que constituem o ser do homem, assume-as, mostrando-se como condição de possibilidade de o homem expressar-se como homem propriamente dito. Nesse sentido, é a categoria do espírito que proprociona aquela compreensão do homem capaz de alcançar uma “ideia do homem”.

Pelo espírito o homem se experimenta como um ser de razão e de liberdade. Evidentemente, o espírito não pode ser detectado pela observação empírica, própria das ciências na natureza, nem analisado pelos procedimentos das ditas ciências do homem. O espírito só pode ser reconhecido pela reflexão. O homem é, admiravelmente, capaz de se voltar para si mesmo e de experimentar-se como um ser racional e livre. Negar a dimensão espiritual do homem é cair em contradição, uma vez que, para negá-la, o homem precisa interrogar-se sobre si mesmo. Ora, o ato mesmo de interrogar-se sobre si mesmo é um ato em que o homem interrogante experimenta-se como razão e liberdade.

O homem, na verdade, não é espírito puro, mas é coroado pela dimensão espiritual. E é vivendo a vida do espírito que o homem expressa sua humanidade. Pela vida do espírito, o homem é capaz de ultrapassar, de alguma maneira, todas as determinações biológicas, psicológicas, sociológicas e culturais. Pelo espírito, o homem está aberto para a infinutude do ser e do bem, de modo que os contornos limitados da natureza e da sociedade não podem trazer-lhe satisfação plena. Há um “excesso ontológico” no homem que o leva a se ultrapassar constantemente. Só o Absoluto real pode trazer-lhe satisfação. Na verdade, em última análise, o homem é um ser para a Transcendência.


Fonte: Blog do padre Elílio

Nenhum comentário:

Postar um comentário